As sanguessugas – Os Goonies – Conto

por | out 25, 2016 | Contos, Resenhas, Sem categoria

os goonies

E foi durante uma passagem curta, mas os Goonies não sabiam que haviam encontrado os seres mais antigos e sábios da Terra: as Sanguessugas, nesse conto de Halloween aqui no Castelo…

Eu jamais trairei meus amigos das Docas Goon,

Juntos ficaremos até o mundo inteiro acabar,
No céu e no inferno e na guerra nuclear,
Grudados feito piche, como bons amigos iremos ficar,
No campo ou na cidade, na floresta, onde for,
Eu me declaro um companheiro Goony
Para sempre, sem temor.

O Juramento Goony

E eu até pensei em fazer uma resenha do livro d’Os Goonies da Darkside… mas não fazia muito sentido. O filme já é consagrado e tudo que poderia falar sobre o livro é: que delicinha de leeeeer! <3 (até porque veio com o mapa também… hehe)

Então, como vêem, não ia dar muito pano pra manga pra escrever. Mas, porém, contudo, todavia, durante a leitura tem um momento em que estão em uma caverna e TCHAN. A ideia sugerida pelo Gordo é simplesmente incrível demais para ser ignorada. Então virou conto, um mix de lenda urbana com aquela vibe lovecraftiana. HAHA

“Tomamos muito cuidado ao caminhar em torno da lagoa com as sanguessugas dentro, mesmo que houvesse uma porrada de moedas lá no fundo. Talvez as sanguessugas coloquem o dinheiro lá para tentar atrair as pessoas para que possam sugar seu sangue, não sei.”

Os Goonies, James Kahn.

Apenas imagine por um momento essa situação. Imagine-se dentro de uma caverna gosmenta frente a uma lagoa cheia de sanguessugas. Agora imagine as sanguessugas da Amazônia que chegam a 30 cm. Imaginou? Então, dê play nesse vídeo para entrar no clima e prossiga.

 

As Sanguessugas

Escrevo esse diário como meu último relato. Não sei quanto tempo terei, nem se meu psicológico sobreviverá com tanto stress acumulado. As coisas que descobri… não sei realmente se deixarão eu sobreviver à esse conhecimento alcançado.

Elas governam o mundo. Sim. Elas. As sanguessugas. Controlam o ser humano desde que a ganância se tornou um elemento vigente na natureza humana.

“Mas como elas conseguem fazer isso? Nem olhos tem.”

É justamente isso que elas querem que você pense. Que precisariam de olhos para conseguir nos dominar. Justo elas que enxergam e controlam a alma. Nós limitados com nossos sentidos, e elas, seres evoluídos a tal ponto que não precisam de todos eles.

Eu andava meio bêbada pelas ruas uma noite, acabara de sair de um bar com uns amigos… quando tropecei. Tropecei em algo macio, automaticamente pensei ser alguma sujeira, excremento, não sei. Mas meu espanto foi enorme quando reparei ser uma sanguessuga. Eu a havia matado. Como não estava nos melhores de meus sentidos, não atentei para a falta de lógica de uma sanguessuga no meio de uma área urbana, então apenas segui em frente, buscando o ponto de ônibus que me levaria para casa.

Ouvi o barulho de água diversas vezes aquela noite, cheguei à ouvir o rastejar de seres também. Pelas paredes, pelos canos, pelas sarjetas. Um barulho cada vez mais crescente. Obviamente o ignorei, culpando o subconsciente coletivo (e bêbado) que te dava o famoso medo do escuro.

Naquela noite elas deixaram que eu fosse para casa. Permitiram. Para que pudessem me analisar. Encontrar meus pontos fracos.

No dia seguinte, acordei com o telefone tocando. Parecia que ele tocava de forma absurdamente alta, mais alta do que o normal. Por um momento achei que tinha virado um super herói que ganha seus poderes depois de tropeçar em um bicho à noite… mas era apenas a ressaca e meu cérebro me insultando pelo tratamento absurdo que lhe dera na noite anterior. Atendi. Era um convite para uma entrevista de emprego, em uma das empresas mais fantásticas do meu ramo (não vou entrar em detalhes como que ramo é esse ou que empresa, já que um dia pode ser que encontrem esse diário, e o leitor sofra o mesmo destino que o meu.). Logicamente achei que estava delirando, mas confirmaram o interesse e combinamos o horário para o dia seguinte.

Depois disso foi tudo degringolando. Consegui o tal emprego. Fui subindo de cargo. Em poucos meses já era chefe de um setor inteiro e nem me lembrava mais daquele esmagamento. Eu teria subido mais se não houvesse ficado até mais tarde uma noite.

Aquela fatídica noite.

Fiquei trabalhando e não percebi o horário, e quando estava indo embora vi a luz acesa na sala de um superior meu. A porta entreaberta. Abri-a para desejar uma boa noite quando encontrei uma das cenas mais terríveis da minha vida: Ele, de joelhos, com uma das maiores sanguessugas que já havia visto na vida, grudada em seu rosto. Não conseguia ver nenhum pedaço dele. Apenas ouvi aquele breve som de sugar. Aquele som aquoso. O mesmo que ouvi naquela noite de bebedeira. Enquanto as lembranças nebulosas daquela noite voltavam, o rosto do meu superior foi virando aos poucos em minha direção. E de repente, tudo que me vi fazendo foi correr. Corri como se não houvesse amanhã.

Quando cheguei em casa, achei que tinha sido apenas minha imaginação, estava trabalhando muito, e essas coisas acontecem, a mente prega truques. Fui ainda temerosa de volta para o trabalho e confirmei minhas suspeitas de que nada havia acontecido quando encontrei meu superior completamente normal. Trabalhando como se não houvesse acontecido nada.

Se eu tivesse duvidado daquele sorriso. Se tivesse olhado fundo em seus olhos vidrados, talvez tivesse saído antes… mas não. A lógica venceu. Continuei vários meses lá sem notar mais nada. Um dos dias, voltando para casa, parei na frente de uma fonte onde as pessoas jogavam dinheiro para pedir coisas, eu não acreditava em nada daquilo, claro, e sentei na beirada de mármore para descansar. Quando olho bem para a água, vejo um daqueles bichos gosmentos arrastando moedas para um dos canos. Achei ser minha imaginação, mas quando olhei para outro canto da fonte, lá estava outro… carregando as moedas de forma discreta e contínua.

Meu coração acelerou. O que estava acontecendo? Não sei se foi pelo stress, se foi um momento de loucura, mas corri para a fonte e tentei pegar um dos bichos dentro d’água. Ele deslizou fluidamente da minha mão, ainda agarrado à moeda e correu para o cano. Mas senti uma pressão na nuca, quase um alerta para que parasse. Um sinal na minha mente indicando que devia parar de me preocupar e voltar ao normal.

Cocei a nuca.

Senti um volume bem na linha do cabelo. Estremeci. Não havia reparado em nenhum volume antes. Tentei puxar e uma dor excruciante tomou conta de todos meus nervos e choques percorreram todo meu corpo. Decidi correr para casa e fui até um espelho. Peguei outro numa das gavetas para conseguir refletir a nuca e… Até para escrever me parece difícil… a vi. Grudada no topo da minha espinha. Uma sanguessuga. Discreta. Mascarada como se fosse uma das vértebras. Só como estava procurando a consegui enxergar. Tentei encaixar minhas unhas por baixo da ventosa e puxar. Um alerta e desespero começaram a percorrer minha mente e corpo em saraivadas. Continuei.

Quando a conseguir tirar senti que minha mente era outra. Era como se um barulho a que estivesse acostumada tivesse parado, e o silêncio fosse finalmente percebido.

Vou correr com o final da história, porque sinto elas se aproximando, não sei quanto tempo mais terei antes que elas decidam acabar comigo de vez…

Eu pesquisei muito e chequei em todos os conhecidos… todos tinham sanguessugas… conforme pesquisava, fui contactada por pessoas que me indicavam que parasse de buscar antes que as coisas não tivessem mais volta… Todas essas pessoas tinham um olhar vidrado. E eram todas importantes. Com cargos incríveis. Com dinheiro para esbanjar. Com poder e influência.

Consegui concluir que as sanguessugas tinham pessoas chave sob seu controle. Que seduziam mais e mais humanos para que caíssem em suas mãos. Que fossem atraídos e se tornassem mais uma máquina na roda de poder delas. Para que tivessem poder e alimento ilimitados.

E eu era um obstáculo agora por saber a verdade. Tive de fugir para vários locais. Mas elas sempre acabavam me encontrando. Conseguiam sentir o meu medo. Senti-lo vazando pelos poros. E depois de alguns dias em um lugar, eu voltava a ouvir aquele barulho aquoso de ventosas. Aquele sinal de que suas vigias estavam perto e haviam me percebido.

Escrevo esse diário para que alguém algum dia o encontre. E que talvez seja mais bem sucedida do que eu. E ajude a livrar a raça humana dessa sina.

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