A Última Carta – OGS #131

por | maio 17, 2016 | Resenhas, Sem categoria

editora biruta

E chega ao Castelo A Última Carta! O primeiro livro do ano da parceria com as editoras Biruta e Gaivota. Um romance epistolar, caótico, cheio de abstrações e que deixa um aperto estranho no peito conforme a gente vai chegando no final…

Sinopse: Luda, apesar de inconformada, parecia já ter seu destino traçado: casaria por conveniência aos interesses familiares, e viveria para sempre em sua cidade natal, cuja população e valores Luda desprezava. Contudo, a chegada de uma carta anônima alteraria completamente o curso de sua vida e, a partir daí, sua história passaria a conter muitas lacunas, segredos e imprecisões. O que seria real, o que seria falso? Através de notícias de jornal, diários, cartas e um tanto de imaginação, o narrador de A Última Carta empreende uma busca pela verdadeira história de Luda. Entre as ruas de uma pequena cidade burguesa parada no tempo e os bulevares de Paris do final da Segunda Guerra Mundial, você acompanhará a investigação de todos os mistérios que permearam a vida de Luda – desde o recebimento da primeira carta, até a chegada da última. (Sinopse da contracapa)

E chegamos ao primeiro livro do ano da parceria com as Editoras Biruta e Gaivota! Entre as várias recomendações, quando li a sinopse de A Última Carta fiquei curiosa, mas ao ler fiquei ainda mais surpresa ao ver que não era nada do que eu esperava.

“Naquele tempo as horas passavam muito vagarosamente e podíamos sonhar.”

A última carta, David Labs, p. 15

Avisam desde a sinopse que é uma investigação, que não se sabe o que é real ou não, mas nada te prepara pra uma profusão de cartas, detalhes, segredos, possibilidades e nervosismo que o livro traz.

“O sangue tingiu a calçada e, certamente, permanecerá nas pedras por dezenas de anos. Para lembrar-nos que talvez tivesse um filho esfomeado escondido num porão enquanto um sujeito patológico brincava de conquistar o mundo.”

A última carta, David Labs, p. 89

Conhecemos Luda por meio de seu diário. A conhecemos também por meio do narrador (jovem? adolescente?), que passa sua visão dos fatos, de suas conversas e que decide reunir todos esses dados sobre a vida de Luda, seus percalços e segredos e a evolução e crescimento de uma adolescente insegura para uma mulher que atravessa continentes.

“Acredito que as leituras exigem responsabilidade. Não se pode decorar algumas páginas e dizer que se conhece um livro. Heréticos.”

A última carta, David Labs, p. 24
Quando se escreve um diário (pelo menos quando tive várias tentativas falhas de escrever alguns diários) a gente está num estado que acha que vai lembrar pra sempre do que estava pensando, achando no futuro. Escrevemos para registrar, fotografar nossa mente naquele instante e talvez ter um espaço posterior de reflexão. Alguns detalhes podem passar desapercebidos nesses momentos de transfusão de acontecimentos. E por isso, não tem como saber o que a Luda não contou. Ela descreve os acontecimentos com a família, seus detalhes, comportamentos, coisas que abomina…

“O velho continente é o limite de seus sonhos. Toda a sua vida é fundada nos tecidos europeus, nos romances de costume, nas paisagens irlandesas, que descreve como se lá estivesse anualmente.”

A última carta, David Labs, p. 35
Mas tudo isso tem aquele toque de algo mais. Algo que nós, leitores, não vamos conseguir abstrair, justamente porque as várias Ludas que vemos tem a abertura e consulta à mente. E nós apenas vemos os retalhos de quem foi ela.

“Tempo se arrastando na forma de sombras, passeios próximos aos limites da morte, medo. Medo e coragem intercalando-se entre o prazer de se estar próximo ao desconhecido e a coragem titubeante de se adiantar e acabar. Ou acordar.”

A última carta, David Labs, p. 58
Será que Luda mentiu? O narrador parece achar que sim, mas não dá pra ter certeza. Eu, pessoalmente, acho que sim, talvez tudo aquilo que ela coloca de extra além das cartas (quem sabe mesmo as cartas sejam farsas construídas para preencher o vazio de uma vida?) não tenha acontecido… ou melhor, tenha acontecido de outra forma.
Não sei.
Não sei se saber tudo isso é um objetivo de fato.
O livro é construído com seus retalhos, pedacinhos de uma vida toda, retrato de uma época… e deixa uma aflição enorme na fase de Paris. Eu li aquele final todo de uma só vez porque não consegui parar… eu precisava saber o que aconteceria depois, qual seria a próxima entrada do diário de Luda.
Quando eu terminei o livro fiquei com uma sensação estranha. Eu queria saber o que aconteceu de fato, mesmo sabendo que não era intenção da própria Luda (aliás, que intenção seria  essa de passar as infos e instruções pro narrador, eu não sei… ) queria saber o que era verdade, o que era mentira, invenção… Mas não vou saber. (Só consigo tentar presumir e esperar que seja isso mesmo…)
De resto, o projeto gráfico é lindo demais. É diferente, vai te levando incerto pela imersão de incertezas das cartas e conjecturas do narrador.
É um livro que te deixa com a pulga atrás da orelha, te faz pensar e conjecturar tudo. E dá pra ler numa sentada só. Só não espere um livro de suspense, ou que suas dúvidas sejam respondidas. Você é quem vai construir essas respostas todas.
A Última Carta
Autores: David Labs
Editora: Editora Biruta
Páginas: 140
quatro estrelas

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