Inktober 2018 – Parte 1

por | out 5, 2018 | Contos, Diários de Uma Escritora

Num mar de carteiras construído diariamente por uma socióloga em crise, acompanhe as análises sociológicas nesse inktober 2018 cheio das carteiras diferentes

Bem, pessoas, dessa vez quisemos unir o Castelo ao inktober! 😀

Pra quem não conhece, a proposta do inktober (idealizado pelo Jake Parker) é desenhar os 31 dias de outubro! Usando só tinta. Ele sempre sugere uma lista de temas a serem usados (pra facilitar ou dificultar HUEHUE), mas desde então muita gente faz sua própria lista, ou usa um tema único (sugiro os de bruxas, sempre tem um pessoal maravilhoso!), alguns só fazem arte digital, outros só manual, alguns não fazem os 31 dias, o que importa é o desafio e se divertir na real. Vale MUITO caçar pela hashtag tanto no twitter quanto no instagram pra descobrir muita gente joia.

A gente decidiu usar a lista do Parker, mas com uma outra proposta: carteiras.

Faremos 31 carteiras nesses 31 dias de outubro! Será o diário sociológico de uma socióloga em crise, e cada desenho é acompanhado de um mini-conto falando um pouco sobre seu conteúdo misterioso. Todas elas vão ser postadas diariamente no Insta do Castelo de Cartas, e compiladas aqui num post a cada cinco. 🙂

Esse é o post de apresentação e compilação das cinco primeiras:

DIA 1

inktoberPegara sua primeira carteira. Era marrom. De couro meio gasto.
Tinha uma política muito firme de não olhar o rosto das pessoas que roubava. Era pegar a carteira e seguir em frente. Então não sabia exatamente quem era a pessoa que possuíra esse objeto.
Estranhamente não havia documentos de identificação, apenas notas fiscais antigas, cartões de fidelidade de locais que nem existiam mais, alguns cartões de convênio vencidos e um envelope pequeno.
Havia algo estranho sobre aquele envelope. Não quis abri-lo.
Levantou-o contra a luz e viu que estava cheio de algum tipo de pó, uma digital amarronzada selava o envelope em sua abertura.
Os pelos do seu braço se arrepiaram.
Era a carteira de alguém que não existia mais.


DIA 2

inktober  Meia noite era a hora de conferir se seus objetivos tinham sido cumpridos. Pelo menos tinha de ter batido uma carteira.
Esse segundo dia provou que sua missão estava completa.
Olhou para uma pequena carteira toda feita de crochê colorido, várias correntinhas, pontos altos e baixos, alguns baixíssimos (pensou que o fato da pessoa estar sem uma carteira agora implicava em um ponto baixo extra, e acabou rindo com certa culpa).
Encontrou algumas moedas, dinheiro trocado, um cartão universitário, adesivos (já havia visto alguns iguais no ponto de ônibus, devia ser essa pessoa que os colava), um rg que era uma cópia plastificada e um cartão de banco tão colorido quanto a linha da carteira.
Havia alcançado o fim do arco-íris.


DIA 3

inktoberToda chamuscada.
Esse era o estado da carteira que roubara naquele dia.
Achava que provavelmente a pessoa que possuíra esse objeto apagava cigarros nela, pelos motivos mais sombrios que fossem, porque só assim para justificar.
As quinas estavam meio comidas, uns pedaços escuros carbonizados, mas o conteúdo estava intacto.
Supôs então que a carteira havia passado por essa tortura de fogo antes que esses conteúdos fossem parar lá dentro.
Encontrou uma camisinha de posto, uma carteira de motorista vencida, um anel dourado, um cartão de banco ainda com o adesivo com o aviso para ligar num tal número e desbloqueá-lo, notas fiscais (a maior parte com transações no crédito) e uma foto de três pessoas, pareciam uma família, essa também meio chamuscada.
Parecia que também passara pela prova de fogo.


DIA 4

inktoberNaquela carteira cabia tudo.
Encontrara uma nota de dois reais solitária, uma moeda de cinco centavos, vários cartões fidelidade, um praticamente completo para conseguir fazer as sobrancelhas de graça, cartões, uma identidade e um chaveiro com um mini-dicionário.
Nele havia algumas palavras-chave, e uma proposta de usar uma diferente por dia.
Ao todo eram 30 palavras talvez complicadas, um guia prático do uso dos porquês, um tutorial de como conjugar o verbo to be e as confusões comuns do uso do S, SC e Z.
Algumas páginas estavam rabiscadas, algumas com círculos rabiscados com caneta de forma raivosa, talvez se referindo à palavras erradas com frequência.
Aquela carteira era a carteira da salvação gramatical.


DIA 5

inktoberA carteira do dia era uma daquelas estampadas, de tecido, tinha umas fotos 3×4 dentro, um cartão do sus, alguns de convênio, documentos antigos (achou um CIC), havia até uma certidão de nascimento (nesse momento quase sentiu uma culpa no estômago imaginando a burocracia da segunda via).
Alguns trocados, algumas notas esporádicas, alguns cartões e o melhor:
Uma receita.
Havia uma receita de frango.
Aparentemente uma receita de família, pois em seu título havia “Frango de Fulana”, com uma anotação “Muito gostoso”. Porque essa receita estaria nessa carteira?
Quem guarda uma receita na carteira?
Seria mesmo muito gostoso?
Decidiu parar para comprar os ingredientes.

 

 

 

Continuem acompanhando diariamente lá no Instagram e por aqui a cada cinco, nossos planos envolvem transformar essas carteiras numa coleção de mini-zines! 🙂

Desejem-nos sorte nesse inktober 2018. HAHAHA

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.